terça-feira, 27 de junho de 2017

A intenção como condição de inserção da fotografia em um arquivo

Dentro do universo e dos desafios das discussões  sobre a presença da fotografia nos arquivos, entre os debates sobre sua catalogação, seu tratamento no arquivo, a necessidade da inserção do contexto da gênese da imagem, existe uma questão me causa inquietação e dúvidas : a intenção do fotógrafo.

Vários autores tratam o assunto considerando fundamental se conhecer a intenção, o por quê de ter sido feita uma ou outra fotografia, para dar continuidade ao processo de inserção como documento imagético em um arquivo.

Para tudo que tenho lido sobre o tema sempre procuro dialogar com as reflexões sobre minha área de interesse que são os assim chamados acervos ou arquivos, apesar da imprecisão acadêmica do termo, dos fotógrafos autorais e dos fotógrafos amadores.

Dentro de uma instituição, com objetivos e campo de atuação definidos, a produção fotográfica vem lastreada por objetivos, pautas e portanto trazem em sua gêneses a intenção na produção do material fotográfico institucional. Abaixo um exemplo de fotografia cuja intenção é a cobertura fotojornalística das sessões de votação da Câmara Legislativa do Distrito Federal-CLDF.

Deputado Jorge Cauhy(centro) nomeado Presidente Honorário da Câmara Legislativa do Distrito Federal - CLDF, 17 de dezembro de 2004.  Presidente eleito para o biênio 2005/2006, Deputado Fábio Barcelos(em pé à esquerda), aplaude Dep.  Jorge Cauhy. Abaixo sentado, deputado Chico Leite.                      Foto: Rinaldo Morelli, local: Sede da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Entretanto, o modo de produção dos fotógrafos autorais, que trilham o caminho de uma fotografia assinada em seu estilo, divulgar seu nome como um criador original, não estão necessariamente pensando na capacidade de informação.

"No momento da criação da imagem, o fotografo autoral exprime o que lhe interessa o que ele acha que é belo. Ele não está interessado em informa e sim em formar. O fotografo autoral sabe que as pessoas que verão a sua imagem não lhe interessam diretamente, pois ele está preocupado com a  criação. Exatamente o oposto, os fotógrafos funcionais, que fazem a fotografia de informação publicada nos jornais e revistas pensam, antes de tudo, em seus leitores, seus destinatários, pois para fotógrafos de imprensa isso é uma obrigação profissional." 
(fonte: https://focusfoto.com.br/compreenda-a-fotografia-autoral/).

foto: Rinaldo Morelli
                                                                                              
Há no fazer fotográfico um certo devaneio, encantamento pelo que lhe parece belo ou inquietante, um processo de criação que muitas vezes só fará sentido em uma edição futura de um conjunto de imagens com coerência interna quando se juntar estas fotografias realizadas, produzidas em meio a outras produções, de forma despretensiosa, em um conjunto que aí sim terá uma proposta e talvez uma intenção explícita de um discurso construído a posteriori. Aqui sim a intenção se faz presente, de forma mais contundente do que no ato de fotografar. Abaixo tempos o exemplo de uma fotografia que somente tomou sentido após processo de edição de um universo de fotografias que dialogam e constituem uma proposta de conjunto.

foto:Rinaldo Morelli, da série Toda Forma. Nova York, 2004.

Isto fica mais claro e evidente, que não há uma intenção a priori no ato de fotografar, quando tratamos de fotógrafos amadores. Há no fazer de quem anda à deriva pelo mundo, um andarilho caçador de imagens, aprisionando instantes, colecionado anotações imagéticas sobre seu mundo, um auto desafio de conseguir traduzir o que vê para um fotografia. Teremos aqui uma intenção? É apenas a intenção de caçar e colecionar imagens.

foto:Rinaldo Morelli, Fortaleza-CE, 2013.

Como traduzir na descrição do contexto de produção de uma fotografia um instinto que move o fotógrafo? Uma vontade incontrolável e perturbadora que apenas pode ser sanada ao se fotografar aquela cena ou personagem que nos inquieta?

Pesquisa estética, Pérolas do caminho, Desafios do olhar, Quero ver como é que fica, Faço depois penso...etc.

Acima algumas sugestões de intenções. Mas eu mesmo, inquieto que sou, me pergunto sobre o quão imprescindível é a intenção da fotografia/fotógrafo para inserirmos uma fotografia em um arquivo, e/ou se não teria uma definição melhor para traduzir e contextualizar a intenção de um fotógrafo que colhe imagens de maneira despretensiosa e aleatória.


















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