quinta-feira, 11 de maio de 2017

A fotografia, a manipulação e o documento arquivado

Por Rinaldo Morelli

A fotografia traz incrustada em sua história a ilusão de ser um reflexo do real. Este é um mito que já caiu por terra, mas ainda existem ecos que insistem em enquadrar e enclausurar esta linguagem sem reconhecer sua melhor aptidão que é a de interpretar a realidade.

O fotojornalismo ainda respira estes ares de ilusão de ser a fotografia a testemunha dos fatos e de contar por meio da imagem fotográfica uma verdade, apesar de toda a subjetividade existente na imagem, na intenção do autor e na interpretação do que vemos uma vez que a fotografia permite múltiplas leituras de sua mensagem.

Dentro deste cenário onde o fotojornalismo se insere, a fotografia abaixo (foto 1) foi feita em uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Legislativa do Distrito Federal em 24 de março de 2009.
foto 1: Rinaldo Morelli/CLDF
Em uma primeira leitura vemos, são dados conhecidos, os deputados distritais sentados à mesa, os assessores em pé ao fundo, e no canto esquerdo um servidor responsável por secretariar a reunião.

O chefe do Setor de Divulgação solicitou que fossem apagados os assessores que estão na imagem e portanto, estavam presentes à reunião e usando sua prerrogativa de editor também mudou o enquadramento da imagem, fazendo uma edição, uma leitura, uma nova interpretação da imagem.

A fotografia adulterada (foto 2) foi publicada no site da instituição, junto ao texto jornalístico, sendo porém uma imagem que não condiz com o fato fotografado e presenciado pelo fotógrafo. A fotografia publicada junto à matéria jornalística de cobertura sobre aquela reunião fala de um momento que não ocorreu.

Foto 2: Adulteração da foto 1, feita pela Secom/CLDF


A questão que surge diante deste fato é um diálogo entre a história contada pelas fotografias feitas da reunião, o "isto foi" a que se refere Roland Barthes, em seu livro A Câmara Clara, e o resgate da matéria publicada no site quando for arquivada e indexada dentro do arquivo da produção jornalística da Casa.


Caso seja analisado o conjunto de imagens em comparação com o material publicado poderá surgir a dúvida sobre a manipulação da imagem.

Ao analisarmos apenas a matéria jornalística no site a questão da manipulação não será abordada. Teremos um documento, uma matéria jornalística, onde a fotografia não corresponde ao fato ocorrido, não é mais um índice, uma imagem que pertence agora ao universo da ilustração, relativizando as pretensões do jornalismo factual de ser um testemunho da história. 

Leia mais sobre este debate no site PicturaPixel

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Os festivais e a ponte com o meio acadêmico

Por Rodrigo Jorge


Em sua 7ª edição do Festival Foto em Pauta Tiradentes, que aconteceu entre os dias 22 a 26 de março de 2017, o que se ouvia das pessoas nas ruas históricas da cidade de Tiradentes-MG eram intensos debates sobre fotografia e suas diversas manifestações nos campos: das artes plásticas, fotojornalismo, fotografia contemporânea e o mais técnico, equipamentos e câmeras do momento.

A participação do meio acadêmico nesses festivais tem crescido bastante. Tanto o Paraty em Foco (Rio de Janeiro-RJ), FotoPoa (Porto Alegre-RG), Festival de Fotografia do Sertão (Feira de Santana - BA) e o Festival de Tiradentes (MG) pontuam em sua programação palestras e workshops com grandes nomes nacionais e internacionais ligados ao meio acadêmico. Eu não poderia ficar de fora dessa, participei do workshop "Poéticas Contemporâneas da Fotografia", que trouxe Philippe Dubois com o tema: “O tempo elástico da Fotografia Contemporânea - O tempo da imagem, como um contínuo infinito que a gente pode modular” com exemplos diversos, antigos e contemporâneos. Dividido em 3 partes: 1º - movimento imóvel, a fotografia é o instantâneo, 2º - movimento natural - o cinema como ele acontece ele passa, a vida acontece na nossa frente como a gente vê, 3º - elasticidade natural, a passagem contínua e natural da imagem. Gostaria de destacar que no início Dubois pontuou referências bibliográficas muito interessantes para o artigo. Abaixo, coloquei pontos importantes para reflexão. Não pretendi escrever um texto, e sim pontuar algumas ideias necessárias do próprio Dubois.

Download do áudio AQUI

      


Apontamentos e destaques

  • Fotografia e cinema 
  • A fotografia e o tempo elástico  
  • A linguagem da nova mídia 
  • A transformação da imagem na era digital 
  • Autores americanos - filme

Como funciona a imobilidade e o movimento na Fotografia em seu contexto histórico evolutivo?

  • O instantâneo nasce no primeiro quarto do século 19. Ele também é um movimento estético. Esse estético vai se impor na fotografia dessa época. Era obrigatório que a pose demorasse para poder surgir a fotografia. A imobilidade é obrigatória.
  • Dubois revelou pesquisa em que, a partir de recuperação de imagem por parte de historiador, a exposição demorava cerca 8 horas para fazer essa fotografia. 
  • O daguerreótipo mostrou as ruas de Paris muito movimentadas. As técnicas de Daguerre mantém entre 12 e 15 min de exposição.
  • Charles Négre utilizou o colódio úmido (1851), revelava entre um segundo e um minuto. O instante foi uma questão de conquista, uma luta contra uma exposição longa. Era muito importante reduzir o tempo de exposição.

Eadwearde Muybridge.
  • A gente espera que a fotografia realmente pode ser instantânea em torno de 1875. Ele gostaria de identificar duas pessoas importantes porque elas serão muito úteis com a articulação com cinema: Eadwearde Muybridge e Étienne-Jules Marey. Os dois se interessam pelo movimento, pela decomposição do mesmo. Isso foi importante para analisar um corpo que se mexe. 
  • Placas diferentes Muybridge e o Marey uma única placa (Cavalo Branco). Ele usava 24 câmeras diferentes, várias posições diferentes. 
  • O objetivo é demonstrar.A mesma coisa com o vôo dos pássaros, ele decompõe a posição dos animais. A mesma coisas com pessoas.

Marey (Etienne-Jules Marey)
  • Foco no movimento do corpo (cromofotografia sobre uma placa fixa e depois na placa móvel)
  • Obturador rodando no percursos da placa, com uma pequena fenda.
  • Fuzil fotográfico. A existência do cinema, são precursores do cinema.Quando o instantâneo surgiu ele auxiliou o surgimento do cinema com a imagem em movimento. A análise e a síntese são complementares. Instantâneo e a imagem cinematográfica. O instante fixado. Depois, uma foto dos irmãos Lumière (Auguste e Louis Lumière).

O instantâneo e o cinema (expressão da velocidade)

  • As invenções, “o cinema é uma invenção sem futuro”, a fumaça e o trem, sintetizam o movimento. Uma forma de mostrar que ele está indo rápido. Homem com o lençol sendo jogado no ar, o instantâneo que mostra a asa. Ele é como um acidente, como uma sorte. E sim, ele é capaz de captar esses acidentes. Capturar a vida como uma forma improvisada. 
  • Tudo isso no início do século XX. Acompanhar o movimento que oferece sentido e velocidade. Pessoa que joga tênis, outra que corre pela escada, como será que ela vai cair (o salto dela é muito bonito!).


Cartier-Bresson (HENRI)

  • O momento decisivo, o reconhecimento de um fato em uma fração de segundo. A forma dele se impor como a mais forte. O fotojornalismo é a plenitude desse instantâneo. 
  • Robert Capra, ela tem esse lado flow, e ele foi incorporado na fotografia. Caron, (Gilles) Fumaça. Fotografia científica e a fotografia publicitária com altíssima velocidade. A gota de leite, que quando ela cai e faz essa coroa.


A conclusão desse caminho - movimento natural do cinema
  • O objetivo era mostrar a imagem da forma como a gente via a imagem. As pessoas na estação de trem, e no lado direito é a saída de uma fábrica. Quando termina um dia de trabalho. Essa cena foi feita para filmagem, porém estamos vendo a vida como ela é, em movimento. Roupa de bebê, almoço do bebê com a família Lumière. As folhas mexem, isso é o mais impressionante, por que será? Que isso que atraem, isso porque eles nunca tinham vista uma filha se mexendo. A vida como ela é, tem algumas coisas diferentes. No primeiro filme eles estão demolindo uma parede. Não era possível ver na realidade. A gente só pode ver o movimento reverso numa imagem. O balão é filmado na vertical, a ideia deles foi prender no balão uma câmera, uma imagem que não é o ponto de vista humano. 
  • E finalmente, temos a primeira ideia de plano. Um bloco de espaço de tempo indivisível, …formando um conjunto de duas partes de um filme montado. A queda da parede tem 2 planos. Espaço e tempo indivisível, e o plano é instantâneo que dura. O movimento filmado é o plano o que quer dizer que é o cinema. A câmera é o espectador, o plano é a consciência cinematográfico, e o plano é uma imagem que mostra as coisas como a gente as vê. Um balé (Orson Wells (consciência e elasticidade começa está presente nesse plano). Plano contínuo, todos os movimentos vão dar essa elasticidade ao movimento. Noções de plano e continuidade. Uma continuidade do movimento.


Elasticidade temporal da imagem
  • Qual a velocidade desse movimento. A película em movimento. Placas móveis, com pedaços de 90cm, ele animava esses filmes para observar o movimento e não capturar ou fixar, como a fotografia. Experiências com as imagens, a bala com a bolha de sabão (ele dá um tiro com a bolha de sabão). Os primeiros movimentos de “timelapse”,  a posição mimética dos Lumière, e o cinema deve reproduzir o movimento como a gente o vê. Que não é mimética. Ver de outra forma para saber mais. 
  • A experiência da variação de movimento, então todas essas experiências elas produzem imagens inéditas. Didier Morin, 1985, série Carnac. Lugar na França que existem monumentos. Ele segura a câmera, coloca em longa exposição e a respiração é que faz os desenhos. No último segundo ele joga o flash o que torna a imagem branca. Pedras que se mexem. Michael Wesely, série still flowers são exemplos disso. Uma semana de exposição e uma semana de vida daquela flor. 
  • A fotografia é uma continuidade.