quinta-feira, 26 de junho de 2014

Arquivo Fílmico e Sonoro Australiano

Dois trabalhos de Ray Edmondson 

por Luiz Antonio Santana da Silva
(mestre em CI e pesquisador do GPAF)

Copiado de Flickr: NFSA
Ray Edmondson defendeu, em dezembro de 2011, sua tese doutoral intitulada “National Film and Sound Archive: the quest for identity: factors shaping the uneven development of a cultural institution” na Universidade de Camberra, Austrália, na qual apresenta um panorama histórico da constituição do Arquivo Nacional Fílmico e Sonoro australiano. Edmondson expõe por mais de 400 páginas sua experiência envolvendo o universo dos arquivos sonoros e audiovisuais, além de discorrer sobre a prática, a teoria, a solução, o problema e inquietações do universo desse gênero documental, que tem sido frequentemente discutido por profissionais da informação. A abordagem aponta como nuances do tema as divergências existentes na discussão de documentos sonoros e audiovisuais como documentos de arquivo quanto: à busca por um lugar desses gêneros documentais como documentos de cunho arquivístico, nas instituições culturais já existentes no país no início do século XX; à modelagem dos profissionais para a nova instituição; ao próprio conceito desses documentos audiovisuais; além dos atritos inerentes que resultaram da criação do NFSA, como instituição independente, a partir de 1935. 

Fruto desse trabalho, que vai expandir e auxiliar os pesquisadores da área, foi o artigo recém-publicado, intitulado “FIAF and the antipodes: the long path to the National Film and Sound Archive of Australia (NFSA)”. Nele o autor aborda com mais profundidade como se deram as discussões para que o NFSA fosse criado e atritos pessoais que teve com diretores australianos de unidades de informação, por manter seu posicionamento inabalável, de criar um arquivo de som e filme, fiel aos preceitos arquivísticos. 

                                    Links:



quinta-feira, 12 de junho de 2014

Reciclagem de imagens com mudança de significado

"Zorralisa" by Azucena Vargas
Uma das coisas mais complexas ao lidar com os conceitos de imagem e documento é que a imagem é a informação que pode ser replicada não apenas em cópias, mas também em novos documentos, com significados e funções distintas. Algumas vezes a ressignificação se dá por meio de modificações na imagem original; sejam alterações a serem intencionalmente percebidas, ou mudanças apenas identificáveis para quem é conhecedor da informação original. 

O primeiro caso pode ser fartamente ilustrado com exemplos publicitários e artísticos nos quais a compreensão da mensagem passada pela imagem alterada, e ressignificada, depende do conhecimento prévio que o espectador tenha da imagem original. É o caso do exemplo acima, da artista plástica colombiana Azucena Vargas. Sem o conhecimento anterior da célebre obra de Leonardo da Vinci perde-se completamente a capacidade de transmissão da mensagem pela artista para o espectador. Nesse caso a ciência da imagem anterior é a chave para o funcionamento da mensagem da nova imagem.

Situações relacionadas ao segundo tipo de caso, normalmente ocorrem com comprometimento da veracidade da informação e, por consequência, da autenticidade do documento no qual a nova imagem está vinculada, quando há conhecimento da imagem anterior. Na sua ausência os termos "falsificação" e "fraude" passam a ser pertinentes para a discussão. O exemplo a seguir mostra adulteração de uma imagem feita com finalidades eleitorais, no calor das atuais eleições colombianas. Diferentemente da situação ilustrada pela Zorralisa, a nova atribuição de sentido somente funciona se não for considerada como uma reciclagem da informação. Nesse caso a ignorância da imagem anterior é a chave para o funcionamento da mensagem nova imagem.

Imagem original do ano de 2009, soldados exibem certificado de conclusão de curso "Manejo de Paramos y Bosque de Niebla"
Imagem adulterada em 2014, soldados exibem supostos cartazes de apoio ao candidato identificado com a letra "Z"
Apesar de opostos e complementares os exemplos aqui escolhidos trazem uma curiosa coincidência: a prevalência da imagem da raposa (zorra, em espanhol), que está explícita na obra de Azucena. Na foto adulterada ela está implícita, na forma da letra, hollywoodamente eternizada como símbolo do cavaleiro solitário, o Zorro, assim denominado devido à sua esperteza, qualidade geralmente atribuída aos vulpídeos; só que nesse caso a esperteza tem que ser entendida em sua acepção difamatória, como sinônimo de malandragem... 

Links:
  • outro post com a obra de Azucena Vargas neste blog;
  • outra obras da artista em seu Facebook: aqui;
  • notícia da Rede Caracol da Colômbia sobre a adulteração da foto.


sexta-feira, 6 de junho de 2014

O que começar a ler para "salvar" fotografias em situação de risco?


Por conta da escassez de estudos na área, muitas pessoas acabam recorrendo ao GPAF na busca de referência sobre preservação de acervos fotográficos. O escopo do grupo não está exatamente voltado para esse tipo de problema, mas, mesmo assim, este post tentará apresentar algumas referências inciais, que têm nos servido como inspiração.

O primeiro a saber é que um conjunto fotográfico nunca deve ser entendido como algo isolado. Ele, de algum modo, se relaciona com uma coleção, um fotógrafo, um arquivo, um produtor, uma função, um modo de registrar o presente, um valor social, uma importância histórica etc. O importante, então, é situar os documentos, antes de mais nada, em uma perspectiva de patrimônio fotográfico para, depois, pensar nos aspectos técnicos do tratamento e organização. A parte técnica pode, didaticamente, ser pensada em dois grandes focos: um físico, dedicado à preservação e a conservação; e um informacional, que se ocupará de trabalhar as técnicas, conteúdos, contextos (históricos e arquivísticos), bem como a política de acesso, divulgação, cópias, direitos etc.

Esquematicamente teríamos, então, a seguinte estrutura de relações de temas:
1. Patrimônio fotográfico
  • 1.1. Tratamento Físico
    1.1.1 - preservação
    1.1.2 - conservação
    1.1.3 - restauração
    1.1.n - etc.
  • 1.2.  Tratamento informacional
    1.2.1 - técnicas e materiais
    1.2.2 - autores (pessoais e institucionais)
    1.2.3 - funções originais

    1.2.4 - funções posteriores
    1.2.5 - contextos históricos e sócio-culturais
    1.2.6 - contextos administrativo e arquivístico
    1.2.7 - acesso e divulgação
    1.2.8 - cópias e direitos
    1.2.n - etc.
O ponto de referencia inicial está em inglês e localiza-se no site do Photographic and Audiovisual Archives Group do Conselho Internacional de Arquivos (acesso aqui). Lá há duas páginas que trarão boas referências preliminares: a do "kit de sobrevivência" (acesso aqui), com informação básica e resumida sobre recursos mínimos necessários;  e a de "recursos do PAAG" (acesso aqui), que apresenta uma boa relação de documentos e manuais técnicos, disponíveis para consulta na Web. As outras páginas são importantes para informações mais avançadas e/ou complementares.

Nosso blog, além dos links para o PAAG, traz também acesso a muitos textos na caixa "recursos", no canto superior esquerdo. Os textos disponibilizados pelo Centro de Pesquisa e Difusão da Imagem (CRDI), em Girona, Catalunya, trazem importantes reflexões sobre a compreensão e implicações práticas do conceito de Patrimônio Fotográfico além de muitos textos técnicos relativos ao tratamento físico. Os textos trabalhados pelo GPAF em disciplinas da pós-graduação são mais voltados para o tratamento informacional, sobretudo quanto às relações das imagens fotográficas com o contexto de produção documental. É importante indicar que não são divisões estanques e que há textos de toda natureza em ambos grupos de links.

Dentro de tão vasto universo vale à pena ler pelo menos o seguinte:
  • Um grande manual, que é uma referencia completa e obrigatória:
    > Boadas, J.; Casellas, L.; Suquet, M. Manual para la gestión de fondos y colecciones fotográficas. Girona: Biblioteca de la Imagen, CCG Ediciones - Ajuntament de Girona (CRDI), 2001, Disponível aqui; link alternativo aqui.
  • Duas discussões iniciais bem fundamentadas sobre Patrimônio Fotográfico:
    > Boadas, J. Patrimonio fotográfico: estrategias de gestión y preservación, dins el documento escrito y el documento fotográfico. Las Palmas de Gran Canaria: Anroart Ediciones, 2007, p. 15 a 32. Disponível aqui;
    >> Iglésias, D. Materiales fotográficos: conocer, analizar y preservar. 4a. Jornada Provincial de Archiveros. Còrdova, 2009. Disponível aqui.
  • Três textos relacionados às questões físicas e técnicas:
    > Diagnóstico: Pérez, J. L'Estudi diagnòstic per a arxius d'imatges. 4es Jornades Imatge I Recerca: Antoni Varés . Girona, 1996. Disponível aqui.
    >> Equipamentos: Boadas, J.; Iglésias, D. Equipamientos y materiales para la instalación de un archivo audiovisual : el Centre de Recerca i Difusió de la Imatge (CRDI), a Restauración & Rehabilitación. Revista Internacional del Patrimonio Histórico , núm. 89 (2004). Disponível aqu.
    >>> Novas tecnologias: Casellas, L-E; Iglésias, D. Nuevas tecnologías y tratamiento de fondos y colecciones fotográficas. 2as Jornadas Imagen, Cultura y Tecnología . Madrid, 2003. Disponível aqui.
  • Quatro textos sobre contexto e questões arquivísticas:
    Arquivo fotográfico: Heredia, A. La fotografía y los archivos. In: Foro Iberoamericano de la Rábida. Jornadas Archivísticas, 2, 1993, Palos de la Frontera. La fotografía como fuente de información. Huelva: Diputación Provincial, 1993. Disponível aqui.
    >> Documento fotográfico DE arquivo: Lopez, A. Photographic document as image archival document., 2009 . In 8th Conference on Technical and Filed Related Problems of Traditional and Electronic Archiving, Radenci/Slovenia, 25 - 27 March 2009. Disponível aqui.
    >>> Documento fotográfico EM arquivo: Carvalho Madio, T. Uma discussão de documentos fotográficos em ambiente de arquivo. In: VALENTIM, Marta Lígia Pomim. Estudos avançados em Arquivologia. Marília: Cultura Acadêmica, 2012. cap. 3. p. 55-68. Disponível aqui (link alternativo aqui).
    >>>> Contextualização: Lopez, A. Contextualización archivística de documentos fotográficos. Alexandria: revista de Ciencias de la Información, Lima, ano V, n.8, jan./dez. 2011. Disponível  aqui
  • Cinco livros mais recentes com diversidade de temas (nem todas disponíveis on-line):
    > Salvador, A. Ruiz, A. Archivos fotográficos: pautas para su integración en el entorno digital. Granada: UGr, 2006.
    >> Dirección de Bibliotecas, Archivos y Museos. Apuntes metodológicos para la documentación de fotografias. Santiago de Chile: DIBAM, 2012. Disponível aqui.
    >>> Fundación Patrimonio Fílimico Colombiano. Principios y técnicas en un archivo audiovisual. Bogotá, 2010. Disponível aqui.
    >>>> Recio, J. (org.) Gestión del patrimonio audiovisual en medios de comunicación. Madrid: Síntesis, 2013.
    >>>>> Sanchéz-Vigil, J. Salvador, A. Documentación fotográfica. Barcelona: UOC, 2013.