quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fotografias saqueadas: breve história sobre as fotografias resgatadas da ditadura argentina

Fonte: Instituto Espacio para La Memória
As fotos acima retratam três cidadãos argentinos que foram capturados e torturados durante o último período de ditadura no país, autodenominado Proceso de Reorganización Nacional e mantidos presos na chamada ESMA, antiga Escuela de Mecánica de la Armada, que funcionou como centro de detenção clandestino nesse período e por onde passaram quase 5.000 detidos e desaparecidos (90% foram assassinados). Tais fotografias foram “salvas” por um fotógrafo, também preso e torturado durante mais de quatro anos, Victor Basterra.
Basterra foi sequestrado em 1979 junto com sua esposa e filha recém-nascida e permaneceu na ESMA até dezembro de 1983 e vigiado até agosto de 1984. Durante esse período, foi designado a fotógrafo dentro do centro clandestino e passou a sacar fotografias dos militares para produzir documentos falsos para ações ilegais das Forças Armadas.

“Te equivocaste, Marcelo”, dijo Basterra, “yo no saqué las fotos”. “Pusiste en el libro que yo las había sacado, y en realidad las sacaron ellos. Yo sacaba las fotos de los milicos, para hacerle los documentos, pera las de los compañeros las sacaban ellos, tenían un fotógrafo que hacia eso”.
“Yo no apreté el botón”, aclara. “Pero un día, trabajando en el laboratorio vi que tenían una pila de fotos para quemar, era ya el 83, viste, ya se venían los cambios. Y entre ellos vi mi retrato, mi propia foto cuando me acababan de chupar, la que sacaran el mismo día en que nos fotografiaran a todos contra la misma pared. Entonces metí la mano en la pila, y me guardé los negativos que pude agarrar, los escondí entre la panza y el pantalón, ahí los puses, cerca de los huevos”.
“A esa altura parecía que habían decidido perdonarme la vida, que había sido un buen muchacho y merecía seguir viviendo, vigilado pero, en fin, inofensivo. No podían pensar que en cuanto pude saqué las fotos de la ESMA de a poquito, en las salidas, entonces si metidas bien en la zona de abajo, entre los huevos y el culo. No me revisaban casi, pero si llegaban a encontrar una de esas fotos, era boleta”.
(Marcelo Brosdky e Victor Basterra –
Memória en construcción: el debate sobre la ESMA)

Capa do livro organizado por Marcelo Brodsky
No diálogo acima, copiado do livro organizado por Marcelo Brodsky, que perdeu seu irmão durante o período de terrorismo, também preso e assassinado na ESMA, Victor Basterra explica que não apertou o botão da câmera para tirar as fotografias, e que “apenas” as tirou de uma pilha que iria queimar-se e levar consigo uma parte muito importante da história da ditadura na Argentina. Para salva as fotografias, Basterra as guardou e levou aos poucos escondidas em suas roupas para fora do centro, quando já tinha permissão para voltar à sua casa após cumprir suas tarefas.
As fotografias foram escondidas por Basterra até o fim do período e reveladas durante o Juicio a las Juntas, processo judicial organizado em 1985 pelo presidente Alfonsín (1983-1989), que reuniu provas contra os organismos e pessoas responsáveis pelo ocorrido durante a ditadura.


Na mesma introdução do livro, Marcelo Brodsky complementa:
Me equivoqué, es cierto, Victor. No aprestaste el gatillo. Pero sacaste las fotos, y lo hiciste dos veces. Y la dos te fue la vida en ello. Las sacaste de la pila, las salvaste de la hoguera, las quitaste del olvido.
Y después la sacaste de nuevo. Las pusiste ahí abajo, muchos huevos, la verdad, y las llevaste afuera, ¿al mundo real?. Las escondiste adentro e las sacaste afuera. Claro que las sacaste, Victor. Las sacaste dos veces aun que no hayas apretado el gatillo.

Victor Basterra

Compreendemos com a fala de Brodsky que, apesar de Basterra não ter apertado o gatilho para tirar as fotos, foi autor das mesmas por duas vezes: quando as salvou da fogueira e quando conseguiu tirá-las da ESMA.

Ao conhecer um pouco mais sobre a ditadura na Argentina e a história de Victor Basterra e “suas” fotografias, me pareceu interessante apresentá-la e questionar alguns pontos como, por exemplo, por que as fotos seriam eliminadas na ESMA, quem é efetivamente o autor dos documentos fotográficos e onde e como as fotografias originais deveriam ser armazenadas e organizadas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Pegadas de luz


O Instituto Mora da Cidade do México está disponibilizando o site do projeto "Huellas de Luz", em uma processo ainda em construção, com vistas, não apena à difusão de acervos e da pesquisa, mas também para receber comentários, críticas e sugestões. Trata-se de um repositório de fotografias que buscou mesclar na organização elementos relacionados à história social (quanto a escolha das coleções e sua descrição temática) e à arquivologia (na classificação hierarquizada e na descrição inspirada pela ISAD-g). O projeto é um desdobramento de projeto anterior, "Fototeca Digital", que visa consolidar o acesso via Web em um único ambiente virtual.
  • Aceda ao site "Huellas de Luz", clicando aqui e opine neste blog.
  • Veja ainda post anterior sobre a Fototeca Digital neste blog