terça-feira, 29 de março de 2011

Pesquisa: uma metamorfose ambulante...

Fonte da Imagem: www.novoze.blogger.com

Dando início as atividades práticas da pesquisa a respeito dos efeitos da classificação de documentos imagéticos que fazem uso da resolução 14 do Conarq foi conveniente fazer nela algumas alterações que não põem em detrimento seu foco.

Quando iniciei a pesquisa, a intenção inicial era detectar os efeitos da aplicação do plano de classificação mencionado por estar inspirado por frustrações observadas ao longo da minha experiência com classificação usando este instrumento. Tratando-se do meu primeiro projeto científico o professor André me orientou a reduzir a abrangência sem prejudicar a intenção. Deste modo objetivei averiguar os efeitos da aplicação do plano de classificação da resolução 14 em documentos fotográficos no Arquivo Público do Distrito Federal. Sendo mais interessante para iniciação científica ter um grupo mais restrito de documentos (fotográficos) em um campo restrito (ARPDF).

Para iniciar a pesquisa reforcei meu conhecimento acerca do assunto com uma bibliografia direcionada e, até então, relacionava o resultado dos estudos com as experiências que eu já tive, foi quando pareceu conveniente já analisar a ocorrência de algum problema no ARPDF devido o uso do plano do Conarq.

É de meu conhecimento que alguns órgãos do DF, apesar de não serem obrigados por não se tratar do Executivo Federal, usam o plano do Conarq para a classificação. Entretanto, visitando o ARPDF foi-me revelado que grande parte dos documentos fotográficos chegam sem ter uma classificação e, somente foram transferidos devido a uma resolução que determina a transferência de tais documentos após a extinção de um dado período. Trarei mais detalhes sobre esta resolução no próximo post que escrever.

Além disso, verificou-se que, mesmo que houvesse um volume razoável de documentos fotográficos classificados pela Resolução 14, seus efeitos não seriam verificáveis posto que, quando os documentos fotográficos são transferidos ao arquivo público, são submetidos a uma classificação elaborada pelo próprio ARPDF sendo que é a partir desta classificação que se desmembra a gestão e não da classificação feita pelo órgão produtor. Assim sendo, não se pode tirar conclusões concretas a respeito do uso da Resolução 14 no ARPDF, entretanto, a classificação a qual os documentos que chegam ao ARPDF é submetida se assemelha a resolução 14 já que temas subjetivos (assuntos) são o principal critério de classificação. Deste modo, se verificará nesta pesquisa os efeitos da aplicação de plano de classificação que se baseie em temas subjetivos e assuntos gerais. Nestas características se inserem não somente o plano do Conarq, mas a maioria (arrisco esse palpite) dos planos de classificação do Brasil.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Temática do GPAF será objeto de curso na pós-graduação


O programa de pós-graduação em Ciência da Informação da UnB (ver blog aqui) estará ofertando, em uma das turmas da disciplina "Seminários em Organização da Informação", o curso "Acervos Fotográficos", destinado à discussão dos pontos norteadores do grupo de pesquisa de mesmo nome. O programa final ainda não está pronto, porém as inscrições para os alunos regulares e especiais (ver instruções aqui) encerram-se amanhã dia 22/março, 3ªf. Além das aulas programa de leitura típicos a disciplina contará com experiências práticas em acervo fotográfico, visando melhor articular teoria e prática. As aulas estão previstas para ocorrem às 6ªfs, das 14:00 às 18:00 na FCI e no CEDOC-UnB. Algumas das atividades serão abertas a interessados em geral e outras delas poderão ser acompanhadas por não alunos que desempenhem atividades relacionadas aos acervos fotográficos (como estagiários e funcionários de fototecas e alunos que trabalham com fotografia etc.)  Todos os interessados em acompanhar  a disciplina (alunos regulares, candidatos a alunos especiais e demais interessados) deverão comparecer à primeira aula, nesta 6ªf, na FCI para apresentação do programa, e cronograma, para seleção dos alunos especiais e para definição das formas de participação e acompanhamento dos demais interessados. A primeira aula conta com a seguinte programação:
  • 14:00hs - apresentação do projeto DigifotoWeb
  • 15:00hs - apresentação do programa (preliminar) da disciplina
  • 15:15hs - apresentação dos alunos, candidatos a alunos especiais e demais interessados
  • 16:00hs - intervalo (para os regulares), seleção dos alunos especiais e definição das formas de participação e acompanhamento dos demais interessados.
  • 16:20hs - exercício com fotografia
Às 18:00hs o haverá uma breve reunião do GPAF, na qual o aluno Paulo Matheus Nicolau Silva (Engenharia de Redes - UnB) apresentará o andamento de seu projeto de "webzização" do Digifoto, o DigifotoWeb 2.0. É apenas uma reunião técnica de trabalho, mas que estará aberta aos interessados em geral.

domingo, 20 de março de 2011

Posturas de pesquisa relacionadas à organização arquivística de acervos fotográficos


A jovem pesquisadora Luana de Almeida Nascimento compartilha algumas de suas conclusões relativas à sua Iniciação Científica, não apenas para ajudar no debate relativo aos documentos imagéticos de arquivo, mas também, espero, para estimular os pesquisadores mais jovens ainda ao desenvolvimento de trabalhos de pesquisa. O projeto foi desenvolvido sob orientação da Profa. Dra. Telma Campanha de Carvalho (vice líder do GPAF), junto ao curso de Arquivologia da UNESP/Marília e financiado pela FAPESP. 


Organização arquivística dos documentos fotográficos da Série “Registros Fotográficos do Projeto ‘Obras da Serra’” – Fundo Eletropaulo – Eletricidade de São Paulo S/A: considerações iniciais 
 Luana de Almeida Nascimento 
Longe de serem conclusivas, as considerações resultantes do exaustivo processo de pesquisa objetivam a verbalização de algumas reflexões e, na medida do possível, abrir novos campos de discussão no que tange a organização arquivística de acervos fotográficos. Desta maneira, as análises apontam para duas direções: uma retrospectiva e outra prospectiva.
Sob o ponto de vista retrospectivo cabe considerar a situação precária da maioria das instituições arquivísticas do Brasil. Raros são os profissionais com formação na área, fato aparentemente inofensivo à primeira vista, mas que se reflete na ausência de um olhar crítico sobre as tarefas arquivísticas, no distanciamento entre a práxis e a teoria, na falta de normalização, no rigor metodológico dentre tantos outros aspectos sintomáticos dos arquivos. Desta maneira, parece-nos incontornável tecermos considerações acerca de determinados procedimentos metodológicos típicos dos arquivos e não considerar a formação do profissional responsável por tais procedimentos. A constante interlocução entre teoria e prática no campo arquivístico apresenta-se como um dos principais aspectos para a sedimentação e desenvolvimento da Arquivologia como campo científico.

A análise prospectiva, por sua vez, aponta para alguns estudos realizados recentemente relacionados à urgente necessidade de reconhecimento e estabelecimento de uma postura gerencial por parte do arquivista. Conforme ressaltado em todo o projeto de pesquisa realizado, mais do que um mero custodiador de acervos documentais, cabe ao arquivista o gerenciamento dos acervos documentais de tal forma que todas as atividades realizadas possibilitem o acesso (atual e futuro) ao documento (do suporte documental e conteúdo informacional no caso dos acervos fotográficos) devidamente contextualizado para os mais diversos usos. Tal análise considera que, muito além da guarda de documentos, os procedimentos metodológicos preconizados pela teoria arquivística tem como foco principal possibilitar o acesso (atual e futuro) dos documentos (contemplando seu aspecto material e informacional) devidamente contextualizados, fato que os qualificam enquanto arquivísticos. Aponta também para a importância de análise dos estudos recentes que apresentam uma abordagem informacional nos arquivos e da gestão da informação arquivística como aspecto de suma importância para a preservação e acesso do documento arquivístico e suas relações orgânicas com o produtor e os demais documentos.

O enfoque na questão informacional mostra-se adequada para tais considerações na medida em que consideramos os suportes documentais não-convencionais e o tipo de tratamento que estes recebem nos arquivos. Sob tal perspectiva, a fragilidade dos suportes levantou questões como a reformatação dos mesmos como possibilidade de fornecer o acesso à informação neles contidas. Tais questões ainda são recentes no campo arquivístico. Convém, portanto, considerá-las criticamente não como uma possível solução para a questão da organização arquivística dos acervos fotográficos, mais do que isto, tal abordagem pode representar importantes contribuições para uma mudança na postura profissional do arquivista, sedimentação do campo arquivístico e meio de inclusão dos documentos em suportes não-convencionais nas pautas de discussão da área.

O relatório integral, para quem tiver interesse, pode ser baixado aqui

terça-feira, 8 de março de 2011

Quando a foto é documento


Na última reunião aberto do GPAF (veja aqui) Pedro Davi, apresentou exemplos bem interessantes relativos a problemas oriundos da má identificação do contexto e finalidade de produção de fotografias. Nos exemplos por ele abordados algumas fotos referentes a solenidades estariam, equivocadamente, de acordo com a tabela do Conarq, sendo eliminadas após 1 ano. Ele conseguiu mostrar que algumas das fotos referiam-se à criação de setores administrativos (no caso a inauguração da Biblioteca do TCDF), que, pela mesma tabela, devem ter guarda permanente.

O exemplo, provocou, surpreendente polêmica, em torno da capacidade probatória do documento fotográfico. Alguns dos debatedores do público indicavam não serem capazes de ver em fotos administrativas nada além de uma atividade ilustrativa, não justificando a guarda das mesmas, salvo por motivos históricos. Nessa linha de argumentação estaria o mencionado registro da inauguração de biblioteca. Do outro lado do debate, muitos exemplos foram mencionados, porém de modo hipotético. A imagem acima, produzida por motivos totalmente administrativos, já ganhou outra dimensão após o sindicalista ter se tornado uma das figuras públicas da política brasileira mais importantes do começo do Séc XXI, tendo suas qualidades históricas superado o uso administrativo.

Em uma tentativa de análise mais acurada da imagem abaixo, algumas informações ausentes se farão necessárias para que seja possível compreender a dimensão administrativa e probatória do documento fotográfico original. Sem a identificação de dados de contexto a classificação do documento será problemática e, certamente equivocada. O inúmeros softwares e aplicativos disponíveis na era da informação não são capazes de dar conta desse desafio apenas pela análise do conteúdo informativo primário da imagem.


A classificação por conteúdo identificaria uma área não urbana, provavelmente pertencente ao bioma Cerrado, com indícios de interferência humana, responsável pela área desmatada para, aparente, via de circulação. Supondo que ainda fosse possível, por meio de busca em programas de geoprocessamento, identificar o local, o verdadeiro motivo da produção do documento original (que é informação fundamental para a classificação arquivística) continuaria indeterminada. Muito arquivos brasileiros, infelizmente e erroneamente, promovem a separação dos documentos fotográficos do restante do acervo, sem a realização de referências cruzadas, guiados por duas ilusões. A primeira de que, dada a fragilidade do suporte, é necessário separar, o quanto antes, os documentos em suportes emulsionados dos não emulsionados. A outra é que, posteriormente, com um amplo sistema automatizado de indexação, os vínculos serão restabelecidos.

O documento fotográfico, cuja imagem aérea está reproduzida acima, é um documento administrativo fundamental em um processo que poderá levar a condenação de uma figura pública por crime ambiental. Como tais informações não podem ser encontradas no conteúdo da imagem elas jamais poderão fazer parte de um futuro sistema informatizado se os documentos imagéticos forem separados dos documentos textuais que, além de informar as finalidades da imagem, trazem os dados contextuais necessários para a classificação arquivística. O mais curioso nesse exemplo não é o que a imagem mostra, porém o que ela não mostra: supostas pilhas de madeira ilegal que, de acordo com o investigado, já estavam na propriedade à ocasião de sua aquisição:


Somente o contexto de produção e a organicidade arquivística são capazes de dotar o documento das informações necessárias para que ele não se converta em mais uma ilustração sobre a riqueza natural brasileira, para que ele seja  prova em uma transação administrativa relacionada ao combate à devastação de tal riqueza.

Acesse aqui reportagem sobre o episódio.