sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Emenda aqui, remenda ali.. EURECA: O Plano de Classificação!


"A aplicação dos princípios de respeito aos fundos e o de ordem original incide diretamente sobre a função classificação" (SOUSA, 2003, p. 242).

"O objeto da Tipologia é a lógica orgânica dos conjuntos documentais" (BELLOTTO, 2002, p. 8)

Considerando as afirmações dos autores acima citados pergunta-se porque a Tipologia documental é estranha ao Plano de Classificação proposto pela Resolução nº 14 do Conarq, visto que tratam de um objeto bastante comum e de demasiada importância: a organicidade? A problemática é ainda mais grave ao pensarmos em documentos imagéticos devido a sua maior subjetividade em relação ao conteúdo. Porque conteúdo? Por que este é o principal critério de agrupamento dos níveis de classificação que a Resolução 14 apresenta.

Reza a lenda: "uma imagem vale mais que mil palavras". Apesar da base empírica e popular da afirmação, ela resume diversos aspectos técnicos do documento imagético, àqueles voltados à sua subjetividade. Ora, se é a apreensão do conteúdo que guia a classificação, como isso se faz quando o documento é composto por uma imagem? Quão precisa é a interpretação do conteúdo da imagem de forma a representar a sua lógica orgânica? Será que somente a compreensão do conteúdo satisfaz essa necessidade?

Para apenas vislumbrarmos de longe a resposta do problema, me arrisco resumir a situação em duas frases apenas: "Porque se classifica um documento? Para representar sistematicamente sua organicidade"

A extrema objetividade dada a esta resposta é válida para pensar-se em uma visão minimalista, pela qual não se deve excluir conceitos mais especializados. Com base nessa abreviação geral podemos apontar o queria o mínimo em relação as necessidades de um Plano de Classificação. Façamos uma análise isolada do conceito em relação a Resolução 14.

Quanto a Representação:
Resumidamente temos, de acordo com a Resolução 14, o conteúdo ou assunto, como separador de águas: o principal critério que diz o que é o documento e o motivo de sua guarda. O principal problema encontra-se aqui, posto que não somente o conteúdo deveria ser considerado, mas também (e principalmente) a tipologia documental. Todo o trâmite do documento deveria ser representado. São diversos os exemplos de documentos que em têm configuração e conteúdo idênticos, mas que cumpriram funções diferentes, representam atividades diferentes e são guardados por motivos diferentes. Supomos que isso seja ainda mais comum em relação a documentos imagéticos.

Quanto ao Sistema:
Trata-se daquele velho discurso, já quase retórico, de que o sistema decimal adotado pela Resolução 14 é um dos principais limitadores do instrumento além de despertar aquele sentimento de arremedo dos métodos biblioteconômicos de classificação com emendas.

Quanto a Organicidade:
Esta, para ser bem compreendida, depende basicamente da soma dos dois fatores anteriores.

Por fim, para ilustrar um exemplo de arranjo (ou classificação) que considere a tematização como foco principal, propomos que seja analisada a organização do acervo do musicólogo Curt Lange, indagando se houve, realmente, a representação da organicidade dos documentos. Acesse aqui texto da equipe responsável pela atividade, e dê atenção especial ao plano da página 6. Observe ainda a série "Iconografia" e responda se a representação de fotografias isoladas das atividades que as geraram, representa melhor a organicidade ou apenas aguça a curiosidade?

Acesse aqui site do Projeto Curt Lange

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Será que a preservação técnica de fotografias é suficiente para a organização arquivística?



"Histórias e memórias institucionais captadas a partir do estudo de acervos fotográficos" é um artigo de Luciana Souza de Brito que fala sobre o tratamento do acervo fotográfico do Centro Universitário Franciscano, que desde o início foi acumulado.

O tratamento constitui no diagnóstico do acervo, higienização, identificação, organização e acondicionamento. No diagnóstico foram coletadas informações como: o formato e o quantitativo das imagens, a identificação dos processos fotográficos, as dimensões predominantes, as características das deterioração das imagens, as formas de acondicionamento, informações sobre o mobiliário e a localização do acervo. Então, procuraram reunir os conjuntos documentais que se tratavam de um mesmo evento e/ou assunto.

Na higienização foram feitas atividades de ordem física e química, como por exemplo a aplicação de pó de borracha no verso das fotos, trincha e algodão sobre a emulsão. No momento da identificação eles perceberam que grande parte do acervo não possuía informações sobre a origem, autoria, evento ou data da produção da fotografia. Então eles fizeram várias pesquisas em documentos textuais e conversaram com funcionários, professores e ex-alunos para identificar essas fotografias.

A organização das fotografias consistiu na separação dos assuntos. Foi considerado o fundo Centro Universitário Franciscano e dois grandes grupos, as faculdades. As faculdades foram separadas por séries, os conjuntos documentais: autoridades, prédios, setores administrativos, comemorações e eventos, solenidades, estudantes, lembranças e irmãs.

O acondicionamento foi feito em folders e envelopes de papel alcalino, caixas-arquivo de cartão neutro e armário.

Perfeito, não é mesmo? Desta forma as fotografias ficaram muito bem protegidas e, na maioria das vezes, poderão ser localizadas quando o usuário souber o evento ou assunto da fotografia.

Tudo bem, mas e quando a pesquisa for feita por um usuário que quer descobrir quais são as fotografias guardadas para uma finalidade específica, como poderão fazer essa identificação se todas foram misturadas e organizadas por evento? A identificação e organização desses documentos deveriam ter sido feitas considerando a ordem que anteriormente eram mantidas e assim estudar o contexto de criação e separação. Esta metodologia de análise iconológica poderia ter sido feita a fim de ajudar a descobrir a origem da aquisição das fotografias. É muito importe que se mantenha a ordem original dos documentos, principalmente no caso de documentos imagéticos, porque se não identificado o contexto de criação esses documentos podem perder a função para que foi criada.